A história do negro no Brasil revelada
A presença negra no Brasil já tem mais de 500 anos, mas a história dos africanos e afrodescendentes em nosso país ainda é pouco conhecida. Cabe a nós, professores, mudar essa realidade.
Muito daquilo que nós, brasileiros, fazemos, festejamos, comemos, falamos, pensamos e em que acreditamos é resultado da presença do negro no Brasil. Não é para menos. Os primeiros africanos chegaram ao atual território brasileiro logo no início da colonização, no começo do século XVI, trazidos à força como escravos. Segundo algumas estatísticas, até meados do século XIX, cerca de 10 milhões de africanos desembarcaram em nossas terras, onde acabaram se miscigenando com brancos e indígenas que aqui viviam.
Com isso, por quase quatro séculos, a população do atual Brasil foi predominantemente negra. Essa situação começou a se modificar a partir da segunda metade do século XIX, quando o governo brasileiro decidiu pôr em prática um projeto visando à colonização de algumas áreas vazias do território nacional. Para efetivar essa proposta, e amparado em um conjunto de teorias racistas, o governo incentivou a vinda de europeus. Esses imigrantes, ao mesmo tempo que povoariam o território nacional, promoveriam o embranquecimento da população brasileira. De fato, o número de brancos no país aumentou substancialmente, a ponto de a população branca ter se transformado em maioria ao longo de boa parte do século XX. Essa maioria branca, porém, não durou muito. Estatísticas recentes do IBGE revelam que hoje o Brasil é, novamente um país negro, uma vez que soma da população preta e parda é superior à população branca.
Ainda assim, apesar da presença extremamente marcante em nossa sociedade, pouco conhecemos dos africanos e seus descendentes. É muito comum, nas salas de aulas, vermos nossos alunos aprendendo a história do negro associada apenas à escravidão. Muitas vezes, ele é mostrado como um ser passivo e submisso, que só apanhava de seus feitores. Muitas crianças e jovens acreditam que esses africanos que vieram para cá como escravos eram oriundos de “povos atrasados e incultos”, que não tinham conhecimento algum.
Quantos alunos conhecem as lutas dos negros por sua liberdade, por exemplo? E os líderes negros que desempenharam importante papel nos diversos momentos da história brasileira? E os conhecimentos na área de metalurgia e agricultura, por exemplo, que os negros trouxeram? E suas crenças religiosas, suas festas, suas danças, seus hábitos alimentares? São coisas tão presentes em nosso dia a dia que muitas vezes esquecemos (ou, pior ainda, sequer sabemos) que têm suas raízes na África
De fato, está na hora de mudarmos essa realidade. Esse ensino que só mostra a história do Brasil segundo a ótica do branco ajuda a reforçar preconceitos e discriminações e contribui extremamente para deixar no chão a autoestima das crianças e dos jovens negros, que acabam não sentindo orgulho de sua origem étnica.
Como salientam as leis 10 639/03 e sua sucessora, a lei 11 645/08, nós, professores, temos um papel fundamental nesse processo de mostrar aos alunos outra visão dessa história e contribuir para a formação de cidadãos que cresçam livres de preconceitos, que respeitem a diversidade étnica e cultural. Pensando nisso, apresentamos abaixo algumas práticas que podem ser realizadas em sala de aula com o objetivo de valorizar a história e a cultura da África e dos afrodescendentes em nosso país.
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Desenvolver projetos de história oral com a comunidade negra de sua região: faça um mapeamento no local e descubra se existem representantes de movimentos negros, convide-os para visitar a aula e conversar com os alunos; peça aos alunos que entrevistem pessoas negras de destaque na comunidade, como um líder comunitário, a moradora negra mais antiga do local, representantes de quilombolas etc.
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Pesquisar os hábitos e costumes brasileiros que têm origem africana: incentive os alunos a pesquisar a culinária, as festas, as danças, o vocabulário.
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Desenvolver um trabalho com o(a) professor(a) de Literatura que leve os alunos a ler autores africanos e/ou lendas de origem africana.
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Promover festivais de hip-hop, de capoeira, de comidas de origem africana (na festa junina pode ter uma barraquinha do gênero).
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Promover situações que permitam aos alunos não negros perceberem de que maneira o racismo está presente em nossa sociedade. A partir daí, elaborar coletivamente um documento no qual os alunos expressem as ações que podem ser realizadas para que não haja racismo e preconceito na escola, entre os amigos, na comunidade, na família nem em outros ambientes que eles frequentam.
Essas são apenas algumas das inúmeras ações que podem ser postas em prática. Na seção Atividades, também apresentamos uma proposta de projeto sobre esse tema.
“Jogar Capoëra” ou “Danse de la Guerre”, de Johann Moritz Rugendas. Créditos: Coleção particular. |
- A Cor da Cultura – Projeto de divulgação da cultura afro-brasileira.
- Casa das Áfricas – Centro de pesquisa e de promoção de atividades culturais relacionadas ao continente africano.
- Casa de Cultura da Mulher Negra – Site voltado para a questão da mulher negra.
- Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades – Site de ONG que faz estudos e pesquisas sobre relações étnicas no Brasil.
- Criola – ONG voltada para a questão da mulher negra.
- Educafro – Educação e cidadania de afrodescendentes e carentes.
- ABRAMOWICZ, Anete et alii (orgs.). Educação como prática da diferença. Campinas: Autores Associados, 2006. (Col. Armazém do Ipê.)
- ARAÚJO, Kelly Cristina. Áfricas no Brasil. São Paulo: Scipione, 2004.
- BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção et alii (orgs.). De preto a afrodescendente. São Carlos: Edufscar, 2003.
- BENTO, Maria Aparecida S. Cidadania em preto e branco. São Paulo: Ática, 2006.
- HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Belo Horizonte-Rio de Janeiro: UFMG-Iuperj.
- MORAES, Grinaura Medeiros de. Livro, leitura, imagens e sentidos. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de & STAMATTO, Maria Inês Sucupira. O livro didático de História: políticas educacionais, pesquisas e ensino. Natal: Ed. da UFRN, 2007.
- MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. 2. ed. Brasília: MEC-Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
- _____. Negritude – Usos e sentidos. São Paulo: Ática, 1986.
- _____ & GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global-Ação Educativa, 2006.
- NUNES, Elaine (org.). Rap e educação, rap é educação. São Paulo: Summus (Selo Negro), 2000.