O uso do celular na sala de aula
Em muitas escolas já fomos levados a parar nossas aulas para solicitar que um aluno guarde ou desligue a câmera do celular com a qual filma e fotografa tudo a sua volta. Nesses momentos, a tecnologia se opõe à aula, atrapalha o desenvolvimento do ensino de História. Mas que tal virar a mesa e fazer o que atrapalha a aula ser o seu foco principal?
Ao longo da História, os avanços tecnológicos têm sido capazes de, em um primeiro momento, produzir encanto e repúdio ao mesmo tempo. Se voltarmos à Inglaterra do século XVIII, às suas primeiras máquinas responsáveis pelo desencadeamento da Revolução Industrial, perceberemos não somente o fascínio com que eram vistas, mas também o medo em relação ao impacto que poderiam causar aos trabalhadores: o desemprego.
Hipnotizados com a rapidez das engenhocas tecnológicas, que os faziam duvidar do que viam, suas mãos desejavam, também, destruir o motivo de seu desemprego. O movimento ludista quebrou as máquinas por enxergá-las como inimigas. E nós, professores, o que estamos fazendo com a tecnologia que aparece em sala de aula como nossa inimiga?
Se não quebramos as máquinas, ficamos perto disso. Elas são consideradas inimigas do bom desempenho dos alunos, concorrentes com as leituras, atrapalhando o desenvolvimento do ensino de História… Mas que tal virar a mesa e fazer do que atrapalha a aula o foco principal da sua atenção positiva e da dos alunos também?
Ora, nessa movimentação, o educador poderá apropriar-se da ordem econômica vigente que dissemina a tecnologia de consumo, utilizando-a e problematizando-a com os alunos em sala de aula. Por necessitar de mais consumidores, o próprio capitalismo diminuiu o valor da tecnologia, disseminando-a cada vez mais.
Um bom exemplo é o telefone celular. No início dos anos 1990, ter um celular era símbolo de status e demonstrava alto poder aquisitivo. Hoje, seus preços caíram e os aparelhos mais modernos, que gravam, filmam, fotografam e fazem mil outras coisas, estão acessíveis a grande número de pessoas. Atualmente, para muitos, principalmente entre os jovens, não possuir um celular é quase motivo de discriminação.
Assim, é possível, através de um trabalho com o vídeo do celular, perceber as repercussões e os impactos da mídia e da divulgação das informações. Experimente! Se a sua cidade tem banda larga, na escola ou em uma lan house, leve os alunos para assistir a vídeos caseiros produzidos por alunos ou leigos de diferentes lugares. Antes, faça uma pequena pesquisa para orientá-los.
Após essa seleção, discuta de maneira geral a relevância social que muitos vídeos podem apresentar, como os que fazem denúncias, apresentam problemas, exibem tragédias (enchentes, incêndios, etc.), mostram projetos educativos, etc. Assim, você poderá debater as possibilidades que o avanço tecnológico e a mídia podem trazer ao nosso dia a dia.
Depois, escolham um tema relacionado à sua própria cidade: a origem do nome, episódios de sua história, prédios famosos, lendas, pratos típicos, a trajetória da escola, hábitos de diversão, e, com a turma dividida em grupos, elaborem roteiros de filmagem que deem conta do tema.
Saiam a campo com suas maquininhas e sem o apoio direto dos professores. Depois de editados os vídeos, escolham palavras-chaves para que eles possam ser recuperados no You Tube, por exemplo. Abram espaço para os comentários e façam uma seção especial para a cidade.
Com essa movimentação, a Internet, as câmeras e os celulares, que antes rivalizavam com as suas explicações históricas em sala, passam a ser importantes aliados. E o processo de construção da História, bem como a participação dos indivíduos comuns na sua elaboração, ficará muito mais consolidado.
Garota tirando foto de outra garota com o celular. Crédito: BananaStock / Jupiter Images. |
Festival Pocket Film – Site francês com vídeos feitos com celular.