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O debate sobre patrimônio na escola

 

A temática do patrimônio pode ser abordada de diversas maneiras: como um conteúdo programático específico, associada a outros conteúdos, como preparação para uma aula-passeio ou ainda como reconhecimento e valorização da história local. De todas as formas, coloca no centro da questão a responsabilidade de cada um na atribuição de sentidos aos espaços públicos e às práticas culturais.

A discussão acerca do patrimônio não pode ser conduzida de maneira isolada. Ela exige toda uma reflexão sobre a cultura e a política de determinada sociedade. Falamos em cultura e política, pois sabemos que o status de patrimônio histórico é concedido não somente pela “relevância cultural” de dado imóvel, objeto, dança ou prática religiosa, mas também, e talvez sobretudo, pela capacidade de articulação política de seus defensores.

Desde a década de 1930, Mário de Andrade já chamava a atenção para a necessidade de se preservarem os costumes, as falas, a culinária, o intangível. Assim, o chamado “Projeto Marioandradiano”, derrotado naquela conjuntura histórica, hoje ganha espaço entre arquitetos, turismólogos, pesquisadores do patrimônio, entre outros, democratizando a preservação do patrimônio histórico, valorizando a cultura oral e a cultura popular.

Mulher trabalha a renda de bilro, em Santa Catarina.

Mulher trabalha a renda de bilro, em Santa Catarina.

Em 2008, a capoeira, por exemplo, foi registrada como bem cultural imaterial, e, assim como ela, o frevo, o samba de roda do Recôncavo Baiano, a técnica de pintura dos índios Wajãpi, do Amapá, além de outros.

Embora novo, o tema é de grande impacto em todo o mundo, pois a globalização o coloca sob constante ameaça. E nós, professores de História, temos conseguido levar esse debate para nossa sala de aula?

Sabemos que muito pouco. Um bom começo é discutir a própria função do patrimônio histórico – material e imaterial. Todos sabemos como usar, ampliar, preservar ou vir a perder o patrimônio familiar, qualquer que seja ele. Mas e em relação a uma comunidade, uma nação ou mesmo a própria humanidade? Quem escolhe, para que serve, quem deve cuidar? Qual o problema de ele desaparecer?

Ruínas de Alcântara, no Maranhão.

Ruínas de Alcântara, no Maranhão.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação) e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) disponibilizam na Internet textos, imagens e diferentes materiais para dar suporte ao debate.

Você poderá, ainda, abordá-lo no trabalho com conteúdos programáticos específicos: através da análise de bens vinculados ao tema – influência francesa, quilombos, arquitetura colonial, em aulas-passeios para identificar diferentes etapas da ocupação do espaço urbano e a presença de músicas ou culinária tradicional, e, ainda, como um projeto de reconhecimento e valorização da história local de determinada região A opção deverá emergir da realidade de cada escola e da demanda dos alunos.

Nesse processo aprendemos que interpretar o patrimônio também é um ato de comunicação, uma forma de valorização das experiências. Um novo olhar é estimulado nesse alunado submerso no turismo consumista, um olhar que aprecia, que analisa e que interpreta.

Contudo, a escola não deve ensinar apenas a interpretar o patrimônio, mas também a problematizar as relações de cultura e poder que o levaram a constituir um patrimônio. Dessa forma os alunos compreenderão não somente os bens que simbolizam seu passado, mas também seus papéis como sujeitos históricos na valorização e preservação de bens que ainda virão.

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Iphan – Site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Unesco – Site da Unesco no Brasil.

subtit_bibliografia

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005.
MURTA, Stela Maris & ALBANO, Celina (orgs.). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, Território Brasilis, 2002.