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Mapas históricos: importantes aliados do professor

Para o historiador, os mapas históricos são ao mesmo tempo documentos de uma época, e, portanto, fontes históricas, e instrumentos indispensáveis para a compreensão de suas análises.

Numa definição bem simples, e por isso relativamente consensual, do que é a disciplina História, poderíamos dizer que é o campo de estudo que, com métodos próprios, articula temporalidades, espaços e agentes sociais. Se concordarmos com essa definição, chega a ser redundante afirmar que o uso de mapas nas aulas de História é uma prática pedagógica obrigatória.

Entretanto, por vários motivos, essa prática tem andado muitas vezes ausente das salas de aula. Não se espante, portanto, se seus alunos não tiverem muita habilidade em lê-los, já que os mapas constituem uma linguagem específica, muito abstrata e que, assim como todas as outras, precisa ser bem ensinada para ser bem aprendida. Portanto, vamos começar pela definição: o que é um mapa?

É uma representação gráfica do espaço, constituída por três elementos básicos: escala, projeção e simbologia.

Os mapas podem nos fornecer informações sobre quase tudo, desde a área física ou relevo até a quantidade de soldados ou naves de guerra de determinada região.

Para que o aluno consiga lê-los, ele deve dominar os três conceitos acima. Faça uma sondagem na turma, logo no início das aulas, e verifique o que você vai precisar desenvolver em relação à linguagem cartográfica.

Comece com o mapa político atual de seu estado ou do Brasil e peça aos alunos que o observem detalhadamente, ao mesmo tempo que vão fazendo inferências sobre o que leem: onde moram, litoral, sertão, limites, grandezas, etc.

Em seguida, discuta o processo de elaboração dos mapas – a tecnologia que está envolvida na sua produção. Hoje empregamos satélites, GPS, e chegamos ao detalhismo do Google Earth. Mostre mapas de outras épocas e comente as técnicas de sua elaboração e o papel político que desempenhavam, antes da disseminação da imprensa.

Peça que os observem novamente com atenção, que vejam todos os ornamentos laterais dos mapas antigos, suas proporções, a diferença entre as áreas detalhadas e os vazios. Lembre aos alunos que os vazios podiam ser propositais, poderiam esconder informações que não deveriam ser divulgadas.

Mapa do Queen Mary Atlas, de 1558, feito pelo português Diogo Homem. Créditos: Diogo Homem / British Library.

Mapa do Queen Mary Atlas, de 1558, feito pelo português Diogo Homem. Créditos: Diogo Homem / British Library.

Surpreenda-os, definitivamente, ao introduzir um planisfério e mostrar como a escolha daquela forma de representação expressa uma relação de poder muito clara. Não só por superdimensionar os países que se encontram acima do equador, mas por ter sido convencionado que a Europa fica na parte de cima do mapa! No Universo, assim como no sistema solar ou em sala de aula, os pontos de referência são sempre relações estabelecidas a partir de um ponto de vista específico. Se eu moro no décimo andar de um prédio, todos os andares do térreo ao nono ficam abaixo de mim. Mas, se eu morar no primeiro, todos os demais estarão acima de mim. Assim é com a lateralidade, com a proximidade, com a centralidade. Como diz o geógrafo Milton Santos: “O centro é onde a gente está”. Eis aí o tema da redação que poderá concluir a sua abordagem inicial.

Para o historiador, entretanto, o mapa não é só um instrumento de localização. Ele é também um documento de uma época, uma fonte histórica, que nos permite saber sobre os costumes, os valores, as hierarquias sociais, os medos e a configuração política de determinado período. Com um atlas histórico em mãos (ou, se for o caso, por meio da internet), o aluno poderá visualizar mapas históricos de todas as regiões, explorando-os como fonte de informação histórica. Ao mesmo tempo, o jovem ganhará intimidade com as diferentes regiões do planeta, muitas das quais constantemente referidas nas aulas e, mesmo assim, os alunos não conseguem localizá-las de forma concreta.

Mapa da Província de São Paulo publicado no Atlas do Império do Brazil, editado em 1868 por Cândido Mendes. Créditos: Atlas do Imperio do Brazil. Instituto Philomathico

Mapa da Província de São Paulo publicado no Atlas do Império do Brazil, editado em 1868 por Cândido Mendes. Créditos: Atlas do Imperio do Brazil. Instituto Philomathico

Basta pensar o seguinte: quantos de nossos alunos têm ideia da dimensão, ou melhor, do tamanho do Oriente Médio? Quando falamos nos conflitos entre israelenses e palestinos pela Faixa de Gaza ou pela Cisjordânia, será que eles conseguem supor que a Faixa de Gaza ocupa cerca de 360 km2, a Cisjordânia, 5 860 km2, e Israel, 22 072 km2? Ou seja, será que eles têm ideia de que a Faixa de Gaza cabe cerca de 61 vezes em Sergipe, o menor estado do Brasil? E que em Sergipe caberiam 4 Cisjordânias inteiras? Ou que Israel é mais ou menos do mesmo tamanho que Sergipe?

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subtit_bibliografia

  • MOLINA, Ana H. Projeto “O sesquicentenário do Paraná no contexto escolar”: uma experiência com mapas históricos.
  • SANTOS, Milton. Território e sociedade: entrevistas com Milton Santos. São Paulo: Perseu Abramo, 2000.