Categories Menu

Como trabalhar com caricaturas, charges e cartuns

Um dos traços mais característicos dos brasileiros é, sem dúvida, o humor. Nos livros didáticos o emprego de ilustrações de humor já está consagrado. Mas será que exploramos efetivamente todo seu potencial?

O grande alcance dos diversos tipos de ilustração de humor pode ser medido pelo sucesso no Brasil dos diversos sites de charges, caricaturas e cartuns. Entre os seus frequentadores encontram-se, com certeza, grande quantidade dos nossos alunos.

E de quais assuntos tratam esses sites? De quase todos os que são tratados em outros veículos da imprensa, seja ela escrita, seja televisada. Fala-se de política interna e externa, futebol, novelas, TV, celebridades, filmes, descobertas. Com uma grande diferença: esses assuntos aparecem em uma linguagem essencialmente visual, recorrendo a desenhos simples, facilmente compreensíveis pelo grande público, com metáforas também de fácil identificação: se o sujeito é asqueroso e se infiltra fazendo o mal, a cobra o retrata muito bem; se é considerado limitado em suas capacidades intelectuais, um par de orelhas rapidamente transmitirá essa mensagem; e assim por diante.

Por meio desse humor visual temos muitas vezes uma complexa análise de nossa realidade. Na verdade, da invenção da imprensa para cá, os principais políticos, acontecimentos e práticas sociais – em quase todos os lugares do mundo, e com muita intensidade no Brasil – já foram alvo de crítica por meio de caricaturas ou charges. Mas como podemos, então, usar esse material maravilhoso em sala de aula?

Cabe ao professor selecionar as imagens que considerar pertinentes ao tema que quer tratar. Levadas à sala por meio de multimídias, retroprojetores ou cartões com xerox, você deve deixar que os alunos as interpretem. Por isso é sempre interessante o uso de mais de uma imagem sobre o mesmo tema, mostrando, assim, mais de um ponto de vista sobre ele. Mas atenção: como foi produzida para outras épocas, boa parte desse material precisa muitas vezes ser contextualizada para melhor compreensão na atualidade. Não se esqueça de oferecer essa contextualização.

Ao apresentar uma ilustração, procure orientar os alunos a fazerem uma leitura atenta dela. Uma possibilidade é promover um debate com os alunos sobre o que eles viram e entenderam. Durante o debate, você pode desenhar na lousa uma tabela com três colunas, intituladas “Fato abordado”, “Opinião do autor” e “Elementos das imagens”, e preenchê-la com os alunos.

Para tanto, procure, por exemplo, pedir a eles que apontem todos os elementos da figura que permitam identificar o fato sobre o qual o ilustrador fez o desenho. Em, seguida, peça que observem de que maneira o desenho manifesta a opinião do ilustrador sobre aquele assunto. Nesse sentido, faça aos alunos perguntas do tipo: O que o autor está criticando? Ele se utilizou somente do desenho para transmitir sua ideia ou precisou de palavras? Essas palavras desempenham que papel? Elas conduzem o olhar do espectador? É possível fugir da leitura que elas indicam?

Por fim, em relação às características da imagem, procure levantar os elementos que ajudam a reforçar a opinião do autor. Oriente os alunos a reparar no ambiente, no mobiliário, na vestimenta dos personagens retratados, nos gestos, etc.

Isso feito, podemos levantar hipóteses para as críticas feitas pelo ilustrador, partindo da premissa da opinião política, do lugar social, do tipo de periódico em que foi publicada, das posições que estavam em disputa na época. Caso deseje, você pode, ainda, utilizar o recurso de pedir que os próprios alunos reinterpretem as caricaturas ou charges, com outros pontos de vista ou opiniões.

Charge, cartum, caricatura, é tudo a mesma coisa?

Apesar de muitas vezes esses termos serem usados como sinônimos, existem diferenças entre eles. Vamos conhecê-los melhor.

Caricatura: tem sua origem na Itália do século XVII, derivado da expressão ritratti carichi ou retrato carregado. A caricatura retrata figuras humanas, exagerando no desenho algumas características físicas da pessoa.

Carricatura do terrorista saudita Osama Bin Laden, feita por Amarildo.

Carricatura do terrorista saudita Osama Bin Laden, feita por Amarildo.

Charge: aborda fatos ou acontecimentos específicos. Sua compreensão é maior quando se conhecem os contextos sociais, econômicos, políticos e/ou culturais que levaram a sua elaboração.

Charge de Storni, publicada em 1927, na revista Careta, ironizando o voto de cabresto.  Legenda da charge: Ella - É o Zé Besta? Elle - Não, é o Zé Burro?

Charge de Storni, publicada em 1927, na revista Careta, ironizando o voto de cabresto.
Legenda da charge:
Ella – É o Zé Besta?
Elle – Não, é o Zé Burro?

Cartum: é um desenho humorístico que se dedica a temáticas mais abrangentes da sociedade, tendendo a ser menos comprometido com o dia a dia dos fatos e mais universal. São temas comuns: o bem e o mal, a guerra, a infidelidade conjugal, etc. Assim, sua compreensão é atemporal, podendo, portanto, ser entendido por pessoas de diferentes épocas e lugares, uma vez que a contextualização típica de uma charge não é necessária. Frequentemente vem acompanhado da linguagem escrita também.

Pedra nos rins, cartum de Ivan Cabral.

Pedra nos rins, cartum de Ivan Cabral.

subtit_valepena

 

The Cartoon Museum – Site em inglês com desenhos de importantes chargistas e cartunistas estrangeiros.
Charges.com.br – Site de humor brasileiro.

Blog do Amarildo – blog com caricaturas do chargista Amarildo.
Quino – Site do desenhista argentino Quino, criador da personagem Mafalda.

subtit_bibliografia

ALBERTI, Verena. O riso e o risível. Rio de Janeiro: Jorge Zahar-Ed. da FGV, 1999.
FONSECA, J. da. Caricatura – A imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
LEMOS, R. Uma história do Brasil através da caricatura. Rio de Janeiro: Bom Texto-Letras & Expressões, 2001.

MAGNO, Luciano. História da caricatura brasileira. Rio de Janeiro: Gala Edições de Arte, 2012.
MOTTA, Rodrigo P. Sá. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
PIMENTEL, Luis. Entre sem bater! O humor na imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
SILVEIRA, M. César. A batalha de papel. A guerra do Paraguai através da caricatura. Porto Alegre: L&PM, 1996.