A realidade posta no papel?
Aliadas insubstituíveis do professor de História, as imagens devem ser trabalhadas como produto de uma época, de um autor e de um observador. São representações da realidade e não a realidade capturada.
Em uma sociedade como a nossa, em que o apelo imagético é cada vez maior, o uso de fotografias ou reproduções em sala de aula é fundamental. Seu potencial é imenso:
- Permite ao aluno maior concretização do tema que estamos abordando, afinal, uma coisa é ler sobre as técnicas de extração de ouro nas Minas Gerais do século XVIII, outra é ver as imagens dessas mesmas técnicas;
- Ajuda a despertar maior interesse do aluno para o assunto, pois muitos deles se sentem mais à vontade com essa linguagem do que com a linguagem escrita;
- Contribui para que os jovens adquiram um repertório de técnicas capaz de ajudá-los a ler criticamente este mundo de imagens no qual estamos mergulhados.
Para que tiremos o maior proveito do seu uso, devemos ter claro que as imagens (fotografias ou pinturas) são documentos que possuem dois significados simultâneos: são a expressão da escolha de determinado autor – o fotógrafo ou pintor –, bem como são a representação de determinada realidade. Mas elas têm a capacidade de produzir naquele que as observa a sensação de que está olhando a própria realidade, apagando tanto o autor como a ideia de representação. Por isso é muito importante que, ao fazermos nas aulas um trabalho de leitura iconográfica, nosso primeiro movimento seja identificar suas condições de produção. Devemos tratá-la como um produto, feito em determinada época e com determinado objetivo.
Pense, por exemplo, no quadro A primeira missa, de Victor Meirelles. O pintor catarinense, que viveu no século XIX e teve seus estudos custeados pela Academia Imperial, pintava por encomenda da família imperial. Ele não estava presente na missa, é claro. Então, por que a pintou? De onde tirou as informações sobre as pessoas retratadas? O que quis demonstrar com a distribuição das figuras no quadro? Qual foi o impacto da obra em 1860, quando foi exposta ao público? Ao fazer esse tipo de exercício com a classe, revelamos muito sobre a sociedade do século XIX na qual vivia o artista.
Podemos complementar nossas informações sabendo que Meirelles, que estudou artes na Europa, fazia parte de um grupo que achava que a pintura deveria traduzir ideias e valores como a pureza, o trabalho árduo e a harmonia. Suas obras, portanto, na própria composição, visam expressar essas ideias. Quando pintava batalhas, estas expressavam mais a tranquilidade e o trabalho dos combatentes do que a violência dos combates. Os alunos já terão, então, mais elementos para compreender o conjunto do quadro.
Aí poderemos discutir a missa, as visões de cada grupo, a natureza e o que mais acharmos interessante. O trabalho se tornará mais frutífero se pudermos apresentar duas ou mais visões diferentes sobre o mesmo episódio, comparando, por exemplo, o quadro de Meirelles com o mural Primeira missa no Brasil, de Candido Portinari, ou com o quadro Primeira missa, do artista gaúcho Glauco Rodrigues. Ou, ainda, se o cotejarmos com outro documento, como a carta de Caminha (utilizada por Victor Meirelles para a elaboração de seu quadro) ou um filme, como O descobrimento do Brasil, de Humberto Mauro.
Para qualquer tema ou época, o procedimento deve ser parecido. Os recursos oferecidos pela Internet nos permitem alcançar os acervos de praticamente todo o mundo, deixando a criatividade do professor quase sem limites.
Biblioteca Digital Mundial – Site com imagens históricas organizadas por continentes.
Wisconsin Historical Society – Site com grande variedade de fotos históricas.
Biblioteca Nacional – milhares de documentos iconográficos digitalizados podem ser pesquisados nesse link da Biblioteca Nacional