Desvendando a África
Conhecer a história da África ajuda a desmitificar muitas ideias preconcebidas e permite entender a realidade do continente na atualidade.
Ao programarmos o trabalho com a cultura afro-brasileira em sala de aula é importante termos claro o papel que ela desempenhará na formação de nossos alunos. Não podemos repetir os erros que foram (e infelizmente ainda são) muito comuns em livros, programas e aulas de História: associar, quase exclusivamente, o estudo dos negros e afrodescendentes à escravidão e à pobreza. Esse tipo de abordagem contribui apenas para reforçar uma visão preconceituosa e estereotipada a respeito dos negros e dos afrodescendentes, associando a eles noções de passividade, subserviência, inferioridade e muitas outras visões discriminatórias que precisam, de uma vez por todas, ser eliminadas.
Nós, educadores, desempenhamos papel fundamental na tarefa de contribuir para o fim desse tipo de pensamento. Uma das formas de fazermos isso é mostrar de modo positivo a história e a cultura africanas e de que maneira a presença africana está na base da formação da cultura e da sociedade brasileiras.
Caso seu programa seja estruturado cronologicamente, vale começar o curso mostrando a origem africana da vida humana e o seu processo de expansão pelo mundo, discutindo com os alunos como o preconceito étnico interferiu nas pesquisas científicas (para muitos era inaceitável descender de africanos!). O documentário África: a origem do Homem, (The real eve, 2002), de Andrew Piddington, pode ser excelente no auxílio a esse debate, possibilitando boa articulação interdisciplinar.
Na chamada Antiguidade, destaque a condição africana do Egito – muitos acabam se esquecendo de que o Egito se localiza na África – e a existência de diversos faraós negros. Aproveite para trabalhar a diversidade de sociedades, culturas e regiões africanas, ressaltando, por exemplo, a prática da metalurgia junto à cultura Nok, que se desenvolveu na África subsaariana, na região da atual Nigéria.
É interessante também articular a integração do norte da África com os gregos e os romanos; chame atenção para Cartago (na atual Tunísia), que por muito tempo disputou com o Império Romano o controle do Mediterrâneo e funcionou como porta de entrada para o cristianismo e o islamismo no continente. Nesse momento, você pode comparar os padrões religiosos, incluindo os africanos, de matriz politeísta.
No período medieval (não se esqueça de que essa nomenclatura é arbitrária e tem como base a história da Europa e não a da África) inclua reinos e cidades africanos. Você pode escolher a cidade de Tombuctu, ponto de confluência do grande comércio intra-africano; quanto aos reinos, o do Sudão, o do Congo, o Iorubá e o do Monomotapa se destacam pela sua posterior ligação com o Brasil. Eles possuem cortes, etiquetas, códigos, música, bibliotecas e muitos outros elementos de refinamento que ajudarão a entender a complexidade das sociedades africanas. Dê destaque à tradição oral desses povos, assim como à prática da escravidão. Ela ajuda a explicar a longevidade do tráfico de escravos para a América. Procure ressaltar ainda que a primeira universidade do mundo surgiu na África: trata-se de Al Karaouine, em Fez, no atual Marrocos, fundada em 859 e que ainda hoje se encontra em atividade.
Ao discutir a história moderna e contemporânea, é importante ressaltar os impactos dos acontecimentos verificados no continente africano durante esse período e como eles ainda produzem reflexos na história da África.
Sob essa ótica, é importante mostrar como os quase cinco séculos de tráfico negreiro desestruturaram as sociedades africanas e de que maneira a dominação da África pelos europeus a partir do final do século XIX agravou ainda mais esse quadro. Na verdade, muitas vezes os alunos não associam a situação atual da África com esse longo período durante o qual o continente africano foi vítima de uma completa expropriação de seus bens, de suas riquezas e de sua força humana.
Também não se deve esquecer de mostrar aos alunos como as nações africanas, apesar das inúmeras dificuldades que enfrentam, vêm hoje se reorganizando e trabalhando para melhorar as condições de vida.
Jovens quenianos em trajes típicos. Créditos: Goodshoot Image / Jupiter Images. |
African timelines – Neste site temos uma interessante linha do tempo a respeito da história da África.
An A-Z of African studies on the Internet – Ótima coletânea de estudos a respeito do continente africano.
Pé na África – Blog jornalístico a respeito de questões atuais da África.
The story of Africa – Site da BBC com diversos textos sobre a história do continente africano.